Projeto criado por PM reduz em 60% a violência doméstica no interior de SP
Policiais visitam famílias vitimizadas e impedem novas agressões. Após bons resultados, projeto será implantado em outras duas cidades.
Policiais da Patrulha Doméstica, em Registro, SP (Foto: Marlon Torres/Arquivo Pessoal)
A Patrulha Doméstica, iniciativa criada a partir da ideia de um policial militar, já diminuiu em 60% o número de casos de violência doméstica em Registro, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. A cidade, que fica em uma das regiões mais pobres do Estado, implantou a estratégia de forma pioneira e, após três meses de sucesso, outros dois municípios podem receber a ação.
Marlon Torres Ananias de Jesus, comandante da 1ª Companhia do 14º Batalhão de Polícia Militar do Interior, idealizou a ação depois de ter contato com uma amiga, vítima de violência doméstica. “Em 2013, ela foi mantida em cárcere privado, foi torturada. Só nessa oportunidade eu soube que ela já havia pedido uma medida protetiva”, conta.
A Medida Protetiva de Urgência determina o afastamento físico do agressor, a fim de assegurar à vítima ou família o direito a uma vida sem violência. No entanto, o comandante percebia que não havia um amparo às vítimas e, principalmente, nenhuma proteção que garantisse o cumprimento da medida. “Ela continuava apanhando, com o papel na mão. Foi por meio dessa brecha que tive a ideia de me aproximar do Poder Judiciário”, diz Torres.
O comandante criou um projeto e o apresentou à tenente coronel da PM Vitória Rita Loyolla Hollanders, que logo aceitou a proposta pioneira de implantar um policiamento específico às vitimas e núcleos familiares oprimidos pela violência doméstica.
Composta por um policial militar masculino e uma policial feminina, a Patrulha Doméstica começou a operar no dia 13 de maio deste ano. “A ideia é unir a força física masculina e a facilidade de aproximação das mulheres”, diz Torres. Além das visitas às famílias, os policiais também alertam o agressor sobre esse acompanhamento, e os riscos e penalidades a que estará sujeito, caso descumpra o estabelecido na Medida Protetiva de Urgência.
Somente mulheres ou famílias sob proteção da medida cedida pelo Judiciário podem solicitar a Patrulha Doméstica. “Quando a pessoa recebe a medida protetiva, é enviado um comunicado ao Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), que por sua vez avisa a Polícia Militar”, explica Torres.
Atualmente, nove famílias são atendidas pela iniciativa em Registro. Até o momento, nenhum dos agressores se aproximou ou promoveu qualquer tipo de violência contra as vítimas. Após três meses de implantação, houve uma diminuição de quase 60% no registro de boletins de ocorrência de violência doméstica, se comparado ao mesmo período do ano passado (de maio a julho).
Fonte: PolicialBR
Colaboração: Bombeiro Rodrigo
3 Comentários
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O que eu reparei nos anos de atendimento a mulheres em situação de violência doméstica é que a policia somente deveria entrar nos casos em situações muito específicas, mas na realidade do diaadia, o único órgão que realmente existe são as policias; Só que não dá para colocar polícia para resolver questões que são sociais e de relacionamento. Deveria haver uma maior cooperação dos demais órgãos (Assistência social, CRAS, CREAS, Conselho Tutelar, MInistério Público, Judiciário). Não é só decretar uma medida protetiva e tá resolvido. Não tem nem como fiscalizar o cumprimento dessas medidas. Não raras vezes o próprio agressor é uma vítima que também precisa de ajuda e quase ninguém olha isso. Quase sempre é um alcoólatra, semi-analfabeto e desempregado. Vai fazer o que com um sujeito assim? Proibir de chegar perto da ofendida? Tudo bem. Mas é só isso? A maioria dos casos que eu vi, era questão social. Para os outros poucos que realmente eram graves, de que adianta uma ordem de afastamento para quem quer matar? Nesses casos, deveria haver um outro tipo de atendimento para a mulher, talvez mudando de cidade, até de nome. E finalmente, não há como sensibilizar a vítima a procurar ajuda se ela depende do agressor para comer e alimentar os filhos (e acreditem, isso é incrivelmente comum). Para essas mulheres tem que haver um trabalho de resgate da própria auto-estima, cursos, emprego, escola para os filhos. Se não atender os filhos, ela não vai também. Isso é trabalho social e a polícia não tem como oferecer isso. Meus cumprimentos aos colegas policiais que estão fazendo alguma coisa, mas são apenas seis famílias, o problema é muito maior e mais complexo que isso. continuar lendo
Excelente Nilo. Falou com propriedade e é isso mesmo que acontece. Temos que sair das leis acadêmicas, discussões de gabinetes de juízes e promotores e olhar a prática. A mulher em situação de vulnerabilidade precisa muito mais que o afastamento do agressor. continuar lendo
Discriminação e violência, lamentavelmente, juntas como vemos em:
http://saudepublicada.sul21.com.br/2015/08/31/religiaoelaicidade-discriminacaoeviolencia/ continuar lendo